sexta-feira, 20 de julho de 2012

Cisto do ducto nasopalatino


O cisto do ducto nasopalatino (CDNP) ou cisto do canal incisivo foi descrito pela primeira vez por Meyer  em 1914 como um cisto do seio paranasal. Apesar de ser considerada uma entidade rara, pode ocorrer em até 1% da população, é considerado o cisto não-odontogênico mais comum (73% dos casos).
Sua patogênese é incerta, entretanto, a teoria de que o CDNP se origina de remanescentes epiteliais que permaneceram após a fusão dos processos palatinos está descartada. Atualmente, acredita-se que este cisto origina-se da proliferação dos remanescentes epiteliais do ducto nasopalatino, estrutura embrionária que liga a cavidade bucal com a cavidade nasal na região do canal incisivo. Normalmente, estes ductos regridem nos humano, porém podem permanecer remanescentes epiteliais nos canais incisivos.
Vários fatores etiológicos têm sido relatados tais como trauma na região durante a mastigação1 ou por prótese mal adaptada11, infecção bacterianabem como, proliferação epitelial espontânea2. Outros fatores mencionados na literatura são fatores genéticos e raciais3. Entretanto, Vasconcelos et al.30 (1999) ressaltaram que se o trauma for considerado como um fator etiológico para o CDNP sua incidência deveria ser muito maior.
O CDNP pode se observado em qualquer idade com maior incidência entre a 2ª e 5ª décadas da vida. Alguns trabalhos indicam maior predileção na raça negra enquanto outros na raça branca. Alguns autores indicam maior predileção no sexo masculino na ordem de 1.8:1 até 20:1, todavia, Vasconcelos et al. (1999) não observaram diferença significativa entre os sexos.
Clinicamente o CDNP apresenta crescimento lento e assintomático geralmente descoberto durante o exame clínico e/ou radiográfico de rotina. Os casos sintomáticos normalmente indicam a presença de infecção secundária da lesão.
Os principais sintomas observados foram aumento de volume (52%), drenagem (25%), dor (20%) e em 70% dos casos nota-se a combinação de sintomas. Em casos raros o paciente relata sensação de ardência na região anterior de maxila que ocasionalmente se irradia para região nasal e órbita.

 
Radiograficamente, a lesão apresenta-se com área radiolúcida, unilocular, bem delimitada, com bordos radiopacos (escleróticos), de formato que varia de ovóide, arredondada, com aspecto de coração ou pêra próximo ou na linha média da maxila. Sabe-se que o formato de coração resulta da sobreposição da espinha nasal anterior ou porque apresentam projetada a imagem do septo nasal enquanto que, a forma de pêra invertida, provavelmente ocorra devido à resistência das raízes dos dentes adjacentes. Raramente é notada reabsorção radicular. Por vezes, pode ser difícil diferenciar esta lesão cística do forame incisivo. Roper-Hall (1938) tem sugerido que área radiolúcida assintomática e menor de 6mm ao redor do canal incisivo deve ser considerado normal. Swanson et al, (1991) consideraram a presença de sintomas em lesões menores de 6mm indicador de intervenção cirúrgica. Os diâmetros radiográficos variam na literatura entre 5 a 22mm, 6 a 60mm3 e 8 a 2 mm.
Histopatologicamente, o CDNP apresenta um revestimento epitelial que pode variar de epitélio estratificado pavimentoso não queratinizado, epitélio pseudoestratificado colunar, epitélio colunar simples ou epitélio cuboidal. O mais comum é ser observado o revestimento com epitélio estratificado pavimentoso não queratinizado isoladamente ou em combinação com algum outro tipo de epitélio. O tipo principal de epitélio depende da proximidade da lesão a cavidade nasal ou bucal. Lesões localizadas mais superiormente são com mais freqüência revestidas por epitélio respiratório e quanto mais próximo a cavidade bucal geralmente o epitélio é estratificado pavimentoso não queratinizado. A cápsula, constituída por tecido conjuntivo denso, pode apresentar feixes de nervos e vasos nasopalatinos, resultado da ressecção cirúrgica parcial durante a excisão cirúrgica da lesão. Tecido adiposo, tecido ósseo reacional, feixes musculares e cristais de colesterol podem ser observados em menor freqüência. Vasconcelos et al. (1999) observaram que em 81% dos casos por eles estudados havia infiltrado inflamatório na cápsula cística. Esta reação inflamatória pode ser conseqüência de infecção secundária. Entretanto, alguns casos não exibem reação inflamatória. O tratamento do CDNP consiste na enucleação total da lesão. O ideal é remover a lesão em estágio inicial para minimizar o risco de complicação pré e pós-operatórias.
Marsupialização está indicada em casos de cistos extensos. Dos 30 casos revisados por Vasconcelos et al.(1999) apenas um foi submetido a esta técnica. Quando não há a remoção total da lesão pode facilitar o desenvolvimento de processos infecciosos-inflamatórios agudo, perfuração da cortical e desenvolvimento de fístulas. Parestesia na região anterior do palato tem sido observada em menos de 10% dos CDNP tratados por remoção cirúrgica tendo em vista que, componentes do nervo nasopalatino podem ter sido removidos durante o ato cirúrgico. Se não tratado o CDNP pode causar reabsorções ósseas e assim movimentar dentes adjacentes. A recorrência desta lesão é rara com índices variando entre 0% a 11%.
O diagnóstico diferencial pode ser feito com o cisto radicular, queratocisto, entretanto dados clínicos, radiográficos e histopatológicos auxiliam na conclusão do caso. Este trabalho tem como objetivo, apresentar um caso de CDNP que foi diagnosticado com bases clínicas, radiográficas e histopatológicas.

Referências Bibliográficas 

MARTINS, M.D; RUSSO, M.P. Nasopalatine duct cyst: report of case and literature review. Rev Inst Ciênc Saúde 2007 jul-set; 25(2):193-7

ABRAMS AM, HOWELL FV, BULLOCK WK. Nasopalatine cysts. Oral Surg Oral Med Oral Pathol. 1963; 16:306-32.

Anneroth G, Hall G, Stuge U. Nasopalatine duct cyst. Int J Oral Maxillofac Surg. 1986; 5:572-80.