O cisto do ducto nasopalatino (CDNP) ou cisto do canal incisivo foi
descrito pela primeira vez por Meyer em 1914 como um cisto do seio
paranasal. Apesar de ser considerada uma entidade rara, pode ocorrer em até 1%
da população, é considerado o cisto não-odontogênico mais comum (73% dos casos).
Sua patogênese é incerta, entretanto, a teoria de que o CDNP se origina
de remanescentes epiteliais que permaneceram após a fusão dos processos
palatinos está descartada. Atualmente, acredita-se que este cisto origina-se da
proliferação dos remanescentes epiteliais do ducto nasopalatino, estrutura
embrionária que liga a cavidade bucal com a cavidade nasal na região do canal
incisivo. Normalmente, estes ductos regridem nos humano, porém podem permanecer
remanescentes epiteliais nos canais incisivos.
Vários fatores etiológicos têm sido relatados tais como trauma na região
durante a mastigação1 ou
por prótese mal adaptada11,
infecção bacterianabem como, proliferação epitelial espontânea2. Outros fatores mencionados na literatura são
fatores genéticos e raciais3. Entretanto,
Vasconcelos et al.30 (1999) ressaltaram que se o trauma for
considerado como um fator etiológico para o CDNP sua incidência deveria ser
muito maior.
O CDNP pode se observado em qualquer idade com maior incidência entre a
2ª e 5ª décadas da vida. Alguns trabalhos indicam maior predileção na raça
negra enquanto outros na raça branca.
Alguns autores indicam maior predileção no sexo masculino na ordem de 1.8:1 até
20:1, todavia, Vasconcelos et al. (1999) não observaram diferença significativa entre
os sexos.
Clinicamente o CDNP apresenta crescimento lento e assintomático
geralmente descoberto durante o exame clínico e/ou radiográfico de rotina. Os
casos sintomáticos normalmente indicam a presença de
infecção secundária da lesão.
Os principais sintomas observados foram aumento de volume (52%), drenagem
(25%), dor (20%) e em 70% dos casos nota-se a combinação de sintomas. Em casos
raros o paciente relata sensação de ardência na região anterior de maxila que ocasionalmente
se irradia para região nasal e órbita.
Radiograficamente, a lesão
apresenta-se com área radiolúcida, unilocular, bem delimitada, com bordos
radiopacos (escleróticos), de formato que varia de ovóide, arredondada, com
aspecto de coração ou pêra próximo ou na linha média da maxila. Sabe-se que o
formato de coração resulta da sobreposição da espinha nasal anterior ou porque
apresentam projetada a imagem do septo nasal enquanto que, a forma de pêra
invertida, provavelmente ocorra devido à resistência das raízes dos dentes
adjacentes. Raramente é notada reabsorção radicular. Por vezes, pode ser
difícil diferenciar esta lesão cística do forame incisivo. Roper-Hall (1938) tem sugerido que
área radiolúcida assintomática e menor de 6mm ao redor do canal incisivo deve
ser considerado normal. Swanson et al, (1991) consideraram a presença de
sintomas em lesões menores de 6mm indicador de intervenção cirúrgica. Os
diâmetros radiográficos variam na literatura entre 5 a 22mm, 6 a 60mm3 e 8 a 2 mm.
Histopatologicamente, o CDNP
apresenta um revestimento epitelial que pode variar de epitélio estratificado pavimentoso
não queratinizado, epitélio pseudoestratificado colunar, epitélio colunar
simples ou epitélio cuboidal. O mais comum é ser observado o revestimento com
epitélio estratificado pavimentoso não queratinizado isoladamente ou em
combinação com algum outro tipo de epitélio. O tipo principal de epitélio
depende da proximidade da lesão a cavidade nasal ou bucal. Lesões localizadas
mais superiormente são com mais freqüência revestidas por epitélio respiratório
e quanto mais próximo a cavidade bucal geralmente o epitélio é estratificado
pavimentoso não queratinizado. A cápsula, constituída por tecido conjuntivo
denso, pode apresentar feixes de nervos e vasos nasopalatinos, resultado da
ressecção cirúrgica parcial durante a excisão cirúrgica da lesão. Tecido adiposo,
tecido ósseo reacional, feixes musculares e cristais de colesterol podem ser
observados em menor freqüência. Vasconcelos et al. (1999) observaram que em 81% dos casos por eles
estudados havia infiltrado inflamatório na cápsula cística. Esta reação
inflamatória pode ser conseqüência de infecção secundária. Entretanto, alguns
casos não exibem reação inflamatória. O tratamento do CDNP consiste na
enucleação total da lesão. O ideal é remover a lesão em estágio inicial para
minimizar o risco de complicação pré e pós-operatórias.
Marsupialização está indicada em
casos de cistos extensos. Dos 30 casos revisados por Vasconcelos et al.(1999)
apenas um foi submetido a esta técnica. Quando não há a remoção total da lesão
pode facilitar o desenvolvimento de processos infecciosos-inflamatórios agudo,
perfuração da cortical e desenvolvimento de fístulas. Parestesia na região
anterior do palato tem sido observada em menos de 10% dos CDNP tratados por
remoção cirúrgica tendo em vista que, componentes do nervo nasopalatino podem
ter sido removidos durante o ato cirúrgico. Se não tratado o CDNP pode causar reabsorções ósseas
e assim movimentar dentes adjacentes. A recorrência desta lesão é rara com
índices variando entre 0% a 11%.
O diagnóstico diferencial pode
ser feito com o cisto radicular, queratocisto, entretanto dados clínicos,
radiográficos e histopatológicos auxiliam na conclusão do caso. Este trabalho
tem como objetivo, apresentar um caso de CDNP que foi diagnosticado com bases
clínicas, radiográficas e histopatológicas.
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