O conhecimento dos efeitos adversos de medicamentos tem fundamental
importância na escolha das drogas a serem empregadas. Entretanto, nem
sempre se tem o conhecimento total dos possíveis efeitos indesejáveis
dos fármacos indicados para determinadas doenças. Assim, a associação
causal entre um fármaco e seu efeito adverso pode vir a ser observada
diversos anos após a liberação de seu uso.
É imprescindível que o profissional realize uma minuciosa anamnese
para o conhecimento da condição de saúde geral do paciente e também de
eventuais terapias medicamentosas em uso por motivos médicos. É comum
nos pacientes que procuram atendimento odontológico o uso de fármacos,
situação que requer especial atenção e conhecimento por parte do
cirurgião-dentista. Alguns desses fármacos podem interferir e alterar
diretamente o diagnóstico, o plano de tratamento ou mesmo o prognóstico
do tratamento.
Os bisfosfonatos (BFS) são uma classe de medicamentos muito
utilizados no tratamento da osteoporose23, doença de Paget20 do osso e
também associados à quimioterapia para o tratamento de hipercalcemia
secundária e alguns tumores malignos12,19. A eficácia clinica dos
bisfosfonatos no tratamento de osteopenia e osteoporose é reconhecida e
isto é refletido no número de 190 milhões de prescrições médicas
realizadas em todo mundo4.
Atualmente, existe uma extensa discussão na literatura científica
sobre possível relação entre o uso de bisfosfonatos e o surgimento de
casos de osteonecrose avascular após intervenções cirúrgicas como
exodontias ou cirurgias envolvendo tecido ósseo em maxila e mandíbula e
até mesmo em pacientes sem história de submissão a tais
procedimentos23,3,17. Baseado em informações do fabricante do
alendronato, por exemplo, a incidência de osteonecrose associada ao uso
de bisfosfonatos é de 1 em 143.000 pessoas / ano submetidas a tratamento
odontológico19.
O tecido ósseo adulto é caracterizado pela presença de fosfato e
cálcio, na forma de cristais de hidroxiapatita [Ca10 (PO4)6(OH)2], que
incorpora em sua estrutura outros íons e sais, sendo o principal
componente mineral constituinte do osso e o elemento essencial
responsável pela função de apoio mecânico9.Devido à dinâmica do tecido ósseo, este é continuamente reabsorvido
pela atividade osteoclástica e substituído pela atividade osteoblástica,
ambas reguladas por fatores sistêmicos e locais9.
Os bisfosfonatos são agentes inibidores da ação osteoclástica, com
capacidade de alterar o processo de reabsorção óssea. Sua utilização
inclui principalmente a inibição da reabsorção óssea associada à
osteoporose e a hipercalcemia associada à disseminação óssea de
neoplasias malignas (especialmente mieloma múltiplo e cânceres
metastáticos para o osso). Embora existam diversos grupos de
bisfosfonatos, a utilização de cada droga depende de suas
características químicas, potencial de efetividade e forma de
apresentação. Das drogas desse grupo, o alendronato (Fosamax®) é a mais
conhecida e tem sido administrada por via oral no controle da
osteoporose. O pamidronato (Aredia®) e o ácido zoledrônico (Zometa®),
ambos de utilização intravenosa, são as formas mais usadas no controle
de pacientes com câncer metastático para os ossos.
Este trabalho tem como objetivo alertar o cirurgião dentista quanto
ao risco do desenvolvimento de osteonecrose avascular após procedimentos
cirúrgicos em maxila e mandíbula de pacientes que estão sob tratamento
com bisfosfonatos.
2 REVISÃO DA LITERATURA
Complicações orais resultantes de tratamentos medicamentosos vem
sendo um assunto de grande desafio para clínicos e pesquisadores nas
ultimas décadas. Devido aos avanços na medicina e o crescente número de
fármacos utilizados, o potencial de possíveis efeitos adversos com
complicações orais tem se multiplicado5.
As alterações bucais podem variar de alterações na mucosa como
candidiase, eritema multiforme, pênfigo associado a uso de medicamento,
reações liquenoides, hiperplasia gengival causada pelo uso das
hidantoínas a neuropatias induzidas por drogas e distúrbios gustativos. O
cirurgião dentista tem um grande número de complicações orais a serem
diagnosticadas e tratadas15, assim, é fundamental que as informações a
respeito de possíveis efeitos adversos das drogas sejam divulgadas para o
conhecimento dos profissionais.
A partir de 2003, vários relatos de casos começaram a ser publicados
na literatura a respeito de uma séria complicação possivelmente induzida
por medicamento: osteonecrose de maxila e mandíbula relacionada ao uso
de bisfosfonatos (OAB) como pamidronato e zoledronato15.Os bisfosfonatos têm indicações de uso em tratamentos de pacientes
com osteoporose, osteopenia, hipercalcemia maligna, doença de Paget do
osso, pacientes oncológicos apresentando metástase óssea20, tratamento
do câncer de mama e próstata com metástase óssea, mieloma múltiplo,
crianças com osteogênese imperfeita e osteoporose juvenil ideopática ou
induzida por esteróides15. Recentemente, tem-se sugerido também seu uso
na redução da perda óssea associada à doença periodontal25.
Os bisfosfonatos são estruturalmente análogos ao pirosfosfato, um
produto normal do metabolismo humano que, quando sofre algumas
modificações estruturais, dá origem a diferentes gerações de
bisfosfonatos com distintos níveis de atividade25.
A primeira geração inclui o etidronato, a segunda compreende os
aminobisfosfonatos, como o alendronato e o pamidronato, e a terceira
geração possui uma cadeia cíclica, sendo seus representantes o
risedronato e o zoledronato25. As propriedades anti reabsortivas dos
bisfosfonatos aumentam, aproximadamente, dez vezes entre as gerações da
droga25.
Cerca de 50% da dose administrada acumula-se em locais de
mineralização óssea, permanecendo nestes sítios por meses ou anos, até
ocorrer a reabsorção. O fármaco, quando administrado por via oral, sofre
pouca absorção, sendo esta ainda afetada pela alimentação,
particularmente pelo leite. Uma vez livre no plasma, é excretado, em sua
forma inalterada, pelo rim22.
Os bisfosfonatos estão altamente concentrados nos maxilares, pois
possuem uma maior vascularização e maior atividade celular que outros
ossos, devido a sua atividade diária e presença de dentes, necessitando
de remodelações constantes ao redor do ligamento periodontal16.
O etidronato, residronato e tiludronado são comumente indicados nos
tratamentos dessas patologias e parecem não causar osteonecrose. Essas
drogas são bisfosfonatos não-nitrogenados e são rapidamente
metabolizados14. O pamidronato e zoledronato que são bisfosfonatos
nitrogenados são mais potentes e não são metabolizados tão rápido13,14.
A tabela 1, traz um quadro com os nomes comerciais e as
características dos bisfosfonatos (BFS) disponíveis no mercado
brasileiro.
Os sinais e sintomas da osteonecrose associada ao uso de
bisfosfonatos são: ulcerações irregulares da mucosa com exposição óssea
na mandíbula ou maxila, dor ou inchaço na região afetada, infecção com
presença de exudação purulenta e sensações alteradas (embaçamento de
visão ou sensação de mal-estar).
Os bisfosfonatos podem apresentar reações adversas, a maior parte
focada no sistema digestivo, tais como náuseas, vômitos, diarréia,
esofagite com possível evolução para o aparecimento de úlceras
esofágicas, alem de dores ósseas, musculares, articulares e reações
alérgicas8.
A maior série dos casos encontrada na literatura que relata 63 casos
de osteonecrose dos maxilares associada ao uso de bisfosfonatos. O
diagnóstico mais freqüente foi de mieloma múltiplo (28 pacientes),
seguido de câncer da mama (21 pacientes), câncer da próstata (03
pacientes) e outras doenças malignas (05 pacientes). Sete pacientes
também faziam uso de bisfosfonatos para tratamento de osteoporose, sem
terem tido diagnóstico de doenças malignas ou terem passado por
quimioterapia. A maxila foi envolvida em 38% dos pacientes, sendo 19
casos com envolvimento unilateral e cinco com bilateral.
Nit= Bisfosfonato Nitrogenado IV= Intravenosa * Potencia relativa ao Etidronat
Fonte: R. Periodontia – 17 (3):24-30
Fonte: R. Periodontia – 17 (3):24-30
Já a mandíbula foi envolvida em 63% dos pacientes, com 37 casos
unilaterais e três bilaterais. Um paciente teve todos os quadrantes
acometidos por lesões ósseas necróticas. O quadro clínico mais freqüente
foi de dor do tecido ósseo exposto em local onde houve uma extração
dentária prévia. Entretanto, 14% dos pacientes não tinham histórias de
qualquer procedimento dento-alveolar recente. Ao exame radiográfico, os
autores observaram osso com aspecto mosqueado, formações de seqüestros,
sinusite crônica e fístulas buco-sinusais. Em seis pacientes, foram
verificadas imagens de áreas osteolíticas antes da extração, sugerindo
envolvimento prévio do osso alveolar. Ao exame microscópico, foi
observado osso necrótico com restos bacterianos e tecido de granulação.
Os autores realizaram cultura de material em que foram identificados
microorganismos integrantes da microbiota oral normal. O tratamento
variou de debridamento sob anestesia local até procedimentos cirúrgicos
para a remoção de toda a peça óssea envolvida.A interrupção do uso do
bisfosfonato não teve um grande impacto na progressão do processo. Em
cinco pacientes, a necrose óssea não apenas persistiu, como também se
desenvolveu em outros sítios.
A tabela 2, mostra alguns casos relatados na literatura como
respectivos diagnósticos que levaram os pacientes a receber
bisfosfonatos, as localizações dos casos de OAB, os tipos de
bisfosfonatos utilizados e as formas de tratamento, quando conhecidas.
As causas da OAB ainda são obscuras, mas parecem advir de uma
complexa interação entre o metabolismo ósseo, trauma local, infecção,
hipovascularização e o uso dos bisfosfonatos. Os pacientes que fazem uso
dos bisfosfonatos administrados por via parenteral parecem ser mais
susceptíveis à OAB do que os tratados por via oral. Fatores sistêmicos
como diabete mellitus, imunosupressão, uso de outras medicações
concomitantes, como agentes quimioterápicos e corticoesteróides também
parecem ter relação com a manifestação da OAB19.
Os fatores de risco para desenvolvimento da OAB podem ser modulados
pela natureza da droga, fatores locais e sistêmicos. A potencia do
bisfosfonato e a duração do tratamento são diretamente proporcionais ao
aparecimento da OAB. Pacientes que fazem uso de BFS e são submetidos a
cirurgia dento-alveolar apresentam risco sete vezes maior de adquirir
OAB. A mandíbula costuma ser mais afetada do que a maxila. Infecções
periodontais, periapicais e pericoronais predispõem à OAB. Pacientes
fumantes, etilistas e com higiene oral deficiente também têm risco
aumentado de desenvolver OAB2.
Pacientes são considerados portadores de OAB quando apresentam três
características fundamentais: terem sido submetidos a tratamento atual
ou prévio com BFs; apresentarem osteonecrose na região maxilofacial por
mais de oito semanas; não terem sido submetidos a radioterapia nos
maxilares2.
Nas fases iniciais da OAB, não se detectam manifestações
radiográficas e normalmente os pacientes não apresentam sintomas. Quando
a exposição óssea torna-se mais extensa, o sinal clínico mais comum é a
presença de rugosidades em tecido mole que rodeiam área do osso
necrosado, podendo haver indicios de infecção secundária. Em estágios
mais avançados, os indivíduos podem queixar-se de dor intensa, com áreas
de parestesia19.
Os pacientes que fazem uso de bisfosfonatos orais a menos de três
anos e não apresentam fatores de risco, não necessitam de qualquer
alteração ou demora no planejamento de um procedimento cirúrgico oral.
No entanto é sugerida a confecção de um termo de consentimento informado
que esclareça o possível risco de manifestação da OAB2.
Fonte : MIGLIORATI, et al, 2006
Os pacientes que fazem uso de BFS orais a mais de três anos ou
associam seu uso com corticoesteróides, necessitam interromper a
administração dos BFs pelo menos três meses antes do procedimento
cirúrgico, só devendo retornar o uso após completa cicatrização dos
tecidos ósseos envolvidos. A confecção de um termo de consentimento que
esclareça os possíveis riscos também é prudente2.
Ainda não existem formas totalmente eficientes de controle da OAB ,
porém, a AAOMS sugeriu estratégias de tratamento para esta doença de
prognóstico ainda duvidoso.
O uso de anti-sépticos bucais, como a clorexidina a 0,12%
antibioticoterapia sistêmica, além de procedimentos cirúrgicos como
curetagem e ressecção ósseas, têm sido realizados como estratégias de
tratamento da OAB2.
As lesões de OAB também tem sido tratadas de outras formas, incluindo
terapia de oxigenação hiperbárica. No entanto, a literatura tem
apresentado resultados controversos pouco consistentes 17,6. O uso do
ozônio também tem sido relatado na literatura com resultados
animadores1.
Vale ressaltar, que por se tratar de um tratamento médico, é o médico
quem deve tomar decisões quanto à conduta terapêutica relacionada ao
uso do bisfosfonato, incluindo a descontinuação do uso deste
medicamento. Entretanto, é importante que haja interação
multidisciplinar entre as áreas médicas e odontológicas envolvidas20.
Além disso, há uma forte recomendação de especialistas para os
pacientes: aqueles que forem se submeter a tratamentos com bisfosfonatos
passem antes por uma avaliação odontológica, com o intuito de propiciar
ao cirurgião dentista a oportunidade de diagnosticar e tratar qualquer
doença na cavidade bucal, realizar procedimentos cirúrgicos necessários
anteriormente ao início da terapia medicamentosa, e para que oriente o
paciente para a realização de uma efetiva higienização bucal18.
3 RELATO DE CASOS CLÍNICOS
3.1 Caso 1
Paciente MAP, gênero feminino, 58 anos de idade, com história médica
de adenocarcinoma de mama esquerda em 2001, diagnosticado com 5 cm de
diâmetro. Foi realizada mastectomia esquerda radical, remoção da cadeia
linfática axilar e radioterapia coadjuvante. Dois anos depois a paciente
apresentou outro nódulo de aproximadamente 3 cm de diâmetro na mama
direita, cujo diagnóstico, após punção aspirativa, foi outro
adenocarcinoma (segundo primário). Foi realizada também mastectomia
radical com remoção da cadeia linfática axilar e radioterapia.
Três anos após o primeiro tumor, a paciente referiu dores na coluna
cujas imagens da ressonância magnética demonstraram a presença de lesões
compatíveis com metástases ósseas. Realizada biópsia, confirmou-se a
suspeita clínica e iniciou-se o tratamento com Zometa®.
Durante o tratamento todas as vezes que as lesões ósseas demonstraram
estar controlada e o oncologista suspendeu o uso do Zometa®, as mesmas
voltaram mais agressivas. Em dezembro de 2007, a paciente apresentou uma
lesão óssea necrótica, na região de molar superior esquerdo, com
solução de continuidade na cavidade oral e o seio maxilar, com a
presença de sinusopatia. A lesão em questão era clinicamente compatível
com osteonecrose por bisfosfonato. O exame tomográfico confirmou a
necrose óssea e a comunicação oro-antral. A paciente foi submetida à
ressecção do osso necrótico da maxila, irrigação com clorexidina aquosa e
soro fisiológico além da fixação de tela absorvível de reconstrução
para fechamento da fístula oro-antral, sob anestesia geral. Foi
realizado retalho palatino, com a preservação da artéria palatina, a fim
de se manter a irrigação. O pós-operatório foi sem intercorrências,
havendo fechamento completo da mucosa em 15 dias.
Figura 1a e 1b - Tomografia computadorizada: comunicação oro-antral em maxila esquerda.Imagens cedidas pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo X. S. R. da Silva
Figura 1c e 1d – Lesão óssea necrótica seis meses após extração dentária
Imagens cedidas pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo X. S. R. da Silva
Imagens cedidas pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo X. S. R. da Silva
3.2 Caso 2
Em maio de 2008, a paciente apresentou nova área de necrose na
maxila, região de canino que também foi operada. Realizada a remoção do
elemento dental com ressecção em bloco do osso alveolar, debridamento,
brocagem, irrigação e preenchimento do defeito cirúrgico com enxerto
alógeno Ostin. A paciente encontra-se atualmente (Agosto de 2009) sob
acompanhamento sem a evidência de novas lesões.
Figura 2a – Ressecção do osso necrótico da maxila / Figura 2b - Retalho palatino
Imagens cedidas pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo X. S. R. da Silva
Imagens cedidas pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo X. S. R. da Silva
3.3 Caso 3
Paciente JMF, gênero feminino, 51 anos de idade. Historia médica de
Adenocarcinoma de mama esquerda. Uso de Zometa® há 3 anos com diversos
períodos de interrupção da medicação. Apresentou lesão com necrose óssea
na região anterior de mandíbula, com envolvimento dos dentes incisivo
lateral inferior esquerdo, central inferior esquerdo, 1º pré-molar
inferior esquerdo. Realizadas exodontias e debridamento do osso
necrótico, irrigação com clorexidina aquosa e soro fisiológico 0,9%, com
fechamento primário através de retalho. Atualmente, encontra-se sob
controle.
Figura 3a - Necrose óssea na região anterior de mandíbula | Figura 3b - Exodontias e debridamento do osso necróticoImagens cedidas pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo X. S. R. da Silva
Figura 3c - Debridamento com ampliação cirúrgica | Figura 3d - Sutura
Imagens cedidas pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo X. S. R. da Silva
Imagens cedidas pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo X. S. R. da Silva
Figura 3e - Pós operatório: Cicatrização após 20 dias Imagem cedida pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo X. S. R. da Silva
3.4 Caso 4
Paciente MD, gênero feminino, 62 anos de idade, história médica de
câncer de mama. Faz uso do Zometa® há 2 anos. Pequena lesão de mandíbula
tratada através de ostectomia sob anestesia local, irrigação com soro
fisiológico 0,9% e fechamento primário. Atualmente, encontra-se sob
acompanhamento.
Figura 4a – Exame Radiografico : lesão de mandíbula | Figura 4b – Exame Radiográfico - vista aproximadaImagens cedidas pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo X. S. R. da Silva
Figura 4c – Lesão de mandíbula | Figura 4d – Debridamento Cirúrgico
Imagens cedidas pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo X. S. R. da Silva
Imagens cedidas pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo X. S. R. da Silva
3.5 Caso 5
Paciente MS, gênero feminino, 68 anos de idade. Câncer de mama.
Mastectomia radical de mama esquerda em 2005. Uso de Zometa® desde esta
época até janeiro de 2008. Lesão necrótica na mandíbula direita com
exposição de tecido ósseo e dor espontânea. Queixa de gosto
desagradável.
Tratada através de curetagem, irrigação e retalho muco-periostal.
Ocorreu fechamento da lesão em aproximadamente 20 dias. A paciente foi a
óbito em abril de 2008 por metástases generalizadas.
Figura 5a e 5b – Tomografia computadorizada: lesão necrótica na mandíbula direita
Imagens cedidas pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo X. S. R. da Silva
Imagens cedidas pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo X. S. R. da Silva
Figura 5c – Lesão necrótica | Figura 5d – Pós-operatório
Imagens cedidas pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo X. S. R. da Silva
Imagens cedidas pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo X. S. R. da Silva
4 DISCUSSÃO
Na maioria dos pacientes as lesões iniciais ocorreram após extração
dentária e as áreas envolvidas sempre apresentaram infecção secundária.
Após o diagnóstico de osteonecrose através de biópsia, alguns pacientes
foram tratados com sob o mesmo protocolo: debridamento do tecido e
remoção do seqüestro ósseo, obtendo margens sangrantes para torná-las
mais acessíveis aos antibióticos, preservando o osso não necrótico, e
irrigação local com iodopovidine ou clorhexidina 12% e soro fisiológico
0,9%12,16. O seqüestro ósseo deve ser eliminado com curetagem e auxilio
de broca regularizando-se o osso, promovendo o fechamento com cobertura
de tecidos sadios, quando possível. O tratamento e controle da dor e
infecção devem ser feitos com analgésicos, antiinflamatórios e
antibióticos e a higiene oral deve ser rigorosa, com uso de bochechos de
clorhexidina 0,12%21,24,10.
Alguns autores acreditam que é necessário discutir com o oncologista
do paciente, que apresenta osteonecrose, a possibilidade de se suspender
o uso dos bisfosfonatos21,11. Outros não veem razão para tal
descontinuidade17.
O debridamento e fechamento do osso exposto com retalho não foi
efetivo, por desenvolver fístulas, causar deiscência e maior exposição
óssea16. A terapia com oxigênio hiperbárico não trouxe nenhum benefício
para o tratamento dos pacientes com osteonecrose por bisfosfonatos
21,17.
Os pacientes que fazem uso de bisfosfonatos não devem ser candidatos a instalação de implantes 24,16.
Em crianças a atividade celular óssea é muito mais intensa e o osso
em crescimento é mais vascularizado, por isso não foi observada
osteonecrose em crianças tratadas com bisfosfonatos para osteoporose e
osteogênese imperfeita7.
5 PREVENÇÃO
É de fundamental importância que o oncologista, o cirurgião
bucomaxilofacial e o cirurgião dentista que irão tratar os pacientes que
fazem uso dos bisfosfonatos, entendam a osteonecrose dos maxilares10.
A prevenção, segundo todos os autores citados, é o principal fator
para se evitar a osteonecrose. Antes de iniciar a terapia, com
bisfosfonatos, o paciente deve ser submetido a um rigoroso exame clínico
odontológico, onde no mínimo será solicitado exame radiográfico
panorâmico. O tratamento deve consistir em eliminação de infecções,
prevenir a necessidade de procedimentos invasivos a curto a médio prazo
e, devem incluir extrações dentárias, controle da doença periodontal,
terapia endodôntica, controle de cáries, restaurações e reabilitação com
prótese. Dentes retidos, impactados, totalmente inclusos, cobertos por
osso e tecido mucoso sadio, devem ser mantidos. Dentes interrompidos,
com comunicação oral devem ser removidos, aguardando sua total
cicatrização por um período de 1 mês. Pequenos torus recorbertos por
mucosa devem ser mantidos e aqueles multilobulares, grandes e recobertos
com mucosa muito fina devem ser removidos 1 mês antes do início da
terapia com bisfosfonatos. Próteses parciais ou totais são aceitas,
porém deve-se aliviar as áreas com pressão excessiva no rebordo ou
realizar reembasamento com resinas soft 16,24,17.
Caso a terapia com bisfosfonato já tenha sido iniciada, um controle
periódico, a cada 4 meses é recomendado: o dentista deve avaliar na
cavidade oral áreas de exposição óssea, principalmente na região
posterior e lingual da mandíbula, procurar evidências radiográficas de
reabsorções ósseas ou osteomielite, aumento de espaços pericementários e
envolvimentos de furcas, sendo necessário realizar profilaxia e remoção
de tártaro, restaurações e tratamentos endodônticos. Dentes com
mobilidade grau 1 e 2 devem ser esplintados e grau 3 associados a
abcessos devem ser removidos com antibioticoterapia. O paciente deve
receber boa orientação quanto à higiene oral e bochechos com
clorhexidina 0,12%17.
6 CONCLUSÃO
A Osteonecrose existe e cabe a classe médica uma criteriosa avaliação quanto a prescrição dos bisfosfonatos.
É preconizado que o melhor tratamento possível, até então, seja a prevenção da ocorrência e desenvolvimento da mesma.
Todo paciente que necessitar deste tipo de medicação deverá ser
tratado de forma especial, necessitando de acompanhamento e motivação no
controle da higiene oral.
É importante a interatividade entre o médico oncologista, o Cirurgião Dentista e o Bucomaxilofacial.
É fundamental que o Cirurgião Dentista tenha conhecimento da relação
entre o uso de bisfosfonatos e a osteonecrose, tendo em vista a
variedade de indicações que este fármaco possui e a alta probabilidade
de se deparar com pacientes que estão sob tratamento com este
medicamento.
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