O Tumor Odontogênico Ceratocístico (TOC) é uma lesão
que requer considerações especiais devido ao seu comportamento clínico e
aspectos histopatológicos específicos. Possui
crescimento lento e indolor, com alto índice de recidiva. Há uma
concordância geral de que o TOC se origina de remanescentes celulares da
lâmina dentária ou do epitélio reduzido do órgão do esmalte.
Durante
muito tempo o TOC foi chamado de Cisto Primordial e Ceratocisto
Odontogênico (CO). Em 2005, a Organização Mundial de Saúde alterou o
nome de Ceratocisto odontogênico para Tumor Odontogênico Ceratocístico.
É mais encontrado na segunda e terceira década de vida e a mandíbula é o local de maior ocorrência.
Radiograficamente
a lesão apresenta-se radiolúcida, podendo ser uni ou multilocular com
limite esclerótico fino, em geral radiopaco. Muitas vezes revela imagens
compatíveis com cisto dentígero, cisto periodontal lateral e
ameloblastoma, dentre outros.
O tratamento de
eleição é a enucleação completa do cisto, com minuciosa curetagem do
osso, porém em alguns casos podem ser utilizadas outras técnicas
cirúrgicas, tais como a descompressão e a marsupialização.
O
primeiro caso de TOC relatado na literatura foi apresentado por
Mikulicz, em 1876, sob a denominação de “Cisto Dermóide”. Em 1956,
Philpsen introduziu o termo Ceratocisto Odontogênico por apresentar
formação de queratina representativa e não ser de origem inflamatória.
Este termo refere-se à sua odontogênese. (RAMOS et al14 2001).
Pindborg & Hansen, em 1962, citados por Dutra et al3(2002)
descreveram as características deste cisto, que por muito tempo foi
chamado de Cisto Primordial, gerando uma controvérsia nas opiniões de
alguns autores.
A Organização Mundial de Saúde,
em 1971, determinou a sinonímia de Cisto Primordial e queratocisto
odontogênico para designar um mesmo processo patológico. Em 2005, a
lesão foi renomeada como Tumor Odontogênico Ceratocístico. (Barnes et al1 2005)
As
modificações na classificação desta lesão, ocorridas no decorrer da
história, demonstram a particularidade deste cisto/tumor. Atualmente
está categorizada como Tumor Odontogênico. (Barnes et al 1 2005)
Os Ceratocistos odontogênicos são cistos de desenvolvimento oriundos dos restos da lâmina dental20,2,14,7,10, do tecido epitelial oral e do desenvolvimento do folículo dentário. (Yonetsu et al 20 2001).
Neville et all11(2004)
acrescentam que o desenvolvimento do Ceratocisto pode estar associado a
fatores inerentes, desconhecidos do próprio epitélio, ou à atividade
enzimática na cápsula fibrosa.
Já Sokler et al19(2003)
citam que o modo de crescimento do ceratocisto é diferente de qualquer
outro cisto odontogênico, pois estes crescem por diferença de pressão
osmótica/ hidrostática, ao passo que o ceratocisto, além desta diferença
de pressão, está somado à proliferação intensa independente de suas
células epiteliais.
A ocorrência deste tipo de cisto varia de 10 a 12% dos cistos que atingem os maxilares13,
podendo ser encontrados em uma ampla faixa etária, mais comumente em
pessoas do sexo masculino, localizando-se, com maior freqüência, na
região dos molares inferiores e no ramo da mandíbula 2,15,18,6,14
seguidos da região de pré-molares e depois região anterior. Na maxila é
mais comum na região de molares e depois de canino. (Lopes Neto et al8 2000).
Schultz et al17(2005)
citam que a prevalência do CO pode ocorrer em qualquer faixa etária,
sendo que, o pico de incidência encontra-se entre a segunda e terceira
década de vida. Kissi et al6(2006) acrescentam que o gênero masculino é mais acometido pela lesão do que o gênero feminino em uma proporção de 2/1.
Rebello et al15(2000)
documentaram 255 pacientes acometidos por CO. Este estudo ratificou as
informações obtidas na literatura sobre a taxa de incidência,
acrescentando uma segunda faixa entre 55 e 64 anos.
Shultz et al17(2005)
dizem que a prevalência do CO é particularmente encontrada nos
maxilares devido a vestígios dispersos de epitélio da lâmina dental.
Defendem a idéia da tendência à degeneração maligna.
O
CO apresenta um comportamento invasivo, agressivo, destrutivo e com
alta taxa de recidiva, sendo esta última a principal característica
desta lesão9,13,16,7. Shafer18(1987) cita que a recidiva está em torno de 13 a 60% e Santos et al16(1989)
explicam que a característica agressiva é manifestada pela reabsorção
radicular, deslocamento de dentes e fratura patológica.
Em
razão do comportamento clínico, o seu tratamento pode ser notadamente
importante. Por esta razão os diferentes conceitos terapêuticos visam à
prevenção das recidivas, preconizando inclusive a decortização lateral
da região da luz cavitária cística com a eliminação do epitélio cístico e
a uma marsupialização consecutiva. (Schultz et al172005).
Koseoglu & Erdem7(2004)
publicam que a característica marcante de ceratocisto é a sua
capacidade de recorrência devido a sua fina e friável membrana, que se
removida parcialmente aumenta a possibilidade de recidiva.
Segundo Sokler et al19(2003),
10% dos casos pode estar associado à síndrome de Gorlin-Goltz. Ela deve
ser pesquisada quando o paciente apresenta ceratocistos múltipos nos
maxilares. (Pavelié et al13 2004)
Quando
pequenos, os COs são assintomáticos, porém os maiores podem causar dor,
manifestações neurológicas, drenagem ou tumefação, principalmente se
uma das corticais é rompida 12,5,6,4. A radiografia
panorâmica é precisa para descoberta destas lesões e sua extensão em
relação às suas estruturas anatômicas. (OIiveira et al12 2005).
O
CO pode ocasionar ainda extrusão dos dentes, mobilidade e deslocamento
no trajeto do feixe vásculo-nervoso. (Fenyo-Pereira et al4 1992).
Radiograficamente
o ceratocisto apresenta-se como uma lesão radiolúcida unilocular ou
multilocular, esférica ou ovóide, bem evidenciada com cortical marginal
definida18,11,3,15,12,6. Pode-se ter como diagnóstico
diferencial cisto dentígero (quando a lesão associada à coroa de um
dente), ameloblastoma e fibroma ameloblástico11,10.
Rebello et al15 (2000) informam que as características radiográficas do CO são bastante comuns às lesões de crescimento lento.
Yonetsu et al20
(2001) concluíram que uma imagem pode ser diagnosticada como CO se
tiver características próprias como: cortical bem definida e às vezes
interrompida; expansão da cortical óssea e crescimento ao longo do osso
mandibular; deslocamento de dentes causando divergência ou reabsorção de
raízes e extrusão de dentes erupcionados; lúmen radiolúcido e
ocasionalmente embaçado em radiografias panorâmicas.
Segundo Yonetsu et al20
(2001) existem duas variantes de Ceratocistos: uma do tipo
paraqueratinizado e outra ortoqueratinizado. Isto o faz duas entidades
clínicas completamente distintas sobre o plano histopatológico. Os
cistos paraqueratinizados apresentam suas células basais em paliçadas,
paraceratinização ondulada e uma aderência falha do epitélio cístico à
parede cística. Já no ortoceratinizado, o epitélio exibe um conteúdo
basal do tipo pavimentoso, de granulações proeminentes, e forte
tendência de reparo da estrutura queratinizada na luz da cavidade
cística.
O CO possui uma cápsula fina e
friável, que na maioria das vezes é difícil de ser removida do osso sem
se fragmentar. A luz do cisto revela um líquido claro ou cremoso
(espesso e acinzentado) que ao exame microscópico consiste em resto de
ceratina, a parede não apresenta infiltrado inflamatório. O limitante
epitelial é constituído de uma camada uniforme de epitélio escamoso
estratificado, com seis a oito células de espessura. A camada basal é
composta de uma camada de células epiteliais colunares ou cúbicas,
disposto em paliçadas, muitos vezes hipercromáticas. (Neville et al11 2004).
Segundo Neville et al11
(2004) o tratamento relaciona-se com o tamanho das lesões; nas pequenas
opta-se pela curetagem, enucleação ou ostectomia periférica, e as
lesões maiores freqüentemente exigem tratamento mais agressivo, tais
como a ressecção marginal ou segmentar devido a sua característica
recidivante.
Os ceratocistos também podem ser
tratados sob diversos métodos incluindo a cirurgia radical, aplicação da
solução de Carnoy, crioterapia e a descompressão. A marsupialização
isolada ou seguida de cirurgia também tem sido empregada7,17.
Israel et al5
(2004) fornecem hipóteses que justificam as recidivas, são elas: a
remoção cirúrgica incompleta dos restos epiteliais e conteúdos císticos,
ou a presença de ilhotas epiteliais pertinentes à enucleação completa.
A
completa remoção do cisto inteiro é difícil, na maioria das vezes,
devido à natureza friável e espessura fina da cápsula do cisto. Muitos
ceratocistos odontogênicos recorrem cinco anos após a cirurgia. Muitos
cirurgiões recomendam a ostectomia periférica da cavidade óssea com uma
broca para osso a fim de reduzir a freqüência de recorrência. Outros
indicam a cauterização química da cavidade óssea com solução de Carnoy
após a remoção do cisto. A injeção de solução de Carnoy na luz do cisto
também tem sido usada para soltar o cisto da parede do osso, facilitando
a remoção e com taxa de recidiva mais baixa. Após a cistotomia, alguns
cirurgiões tratam o ceratocisto odontogênico de grande dimensão pela
inserção de um tubo de drenagem de polietileno para permitir a
descompressão e subseqüente redução do tamanho da cavidade cística. Este
tratamento por descompressão resulta no espessamento do revestimento
cístico, permitindo a remoção com mais facilidade e taxa de recorrência
aparentemente mais baixa. (Neville et al11 2004).
A
marsupialização consiste na exposição do Cisto através de uma abertura
para promover a descompressão do mesmo, aliviando a pressão
intra-cística através de uma comunicação da lesão com meio bucal.
(Schultz et al17 2005).
Lopes Neto et al8 (2000) afirmaram que o prognóstico pode ser favorável desde que a membrana cística seja totalmente removida.
Ainda segundo Kissi et al6
(2006) muitos autores reafirmam a capacidade de degeneração maligna em
carcinoma epidermóide em 2% dos casos e a transformação ameloblástica
através dos restos epiteliais.
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